A coisa mais rica do mundo

  Eram 5:15 da manhã. O despertador toca e ele não levanta. Mas ela está ao seu lado e o faz levantar doce e calmamente. Ele se vai e pede para que ela continue dormindo. Ela tem pesadelos. Ele volta mais tarde e ela diz com brilho nos olhos: eu vou fazer uma prova na faculdade e volto amanhã a noite.
  O dinheiro é mesmo inventado pela humanidade. Mas naquela frase existe uma promessa oculta. Ela vai sim fazer a prova e tentar dar o seu melhor. Ainda mais nos 2 últimos anos do curso que a propiciou independência. O valor material é mesmo subjetivo. Mas ela havia aprendido como lidar com diferentes tipos de pessoas, a diferenciar o amor verdadeiro de um devaneio e o mais importante: aprendeu a amar sua cidade natal. É bem verdade que perdeu alguns que considerava amigos. Ganhou muitos conhecidos. Mudou-se mais que em 17 anos. Aprendeu com seus erros, foi mais humilde. Mudou tanto e nem percebeu. Viu tantas coisas incríveis, boas e ruins. Conheceu gente de todos os tipos e foi obrigada a respeitá-las. Enxergou-se como uma menina perdida. Outras vezes como uma mulher decidida por entre as ruas desconhecidas. Conhecimento acadêmico e pessoal também. Olhou-se no espelho sem se reconhecer. Chorou, riu, se desesperou e encontrou-se. Ainda segue com passos em falso, mas continua confiando em si e em sua família.
  A vida nem sempre vai dar o que se deseja dela. Por isso a luta. E também a desilusão. Diante de todas as portas abertas ela só quer uma coisa: a certeza de ter feito o melhor e não ter deixado passar nenhuma boa chance. Seu tempo se esvaía muitas vezes todo de uma vez só, outras tantas demorava e passava bem devagar por seus olhos. Quando estava aqui, quis estar lá. E lá, desejou com fervor estar aqui. Uma vontade contradizendo a outra, um passo em diante querendo voltar. Sonhos, pesadelos, noites sem dormir, outras sem conseguir acordar. Uma existência incerta, mas construída através de certezas. O anseio por melhorar, por modificar o que é, aprender a ser alguém que os que a amam admirariam. Um pouco de timidez, um pouco de exibicionismo, nada daquilo que poderia dosar. Um alguém muito diferente do que pensou que algum dia seria, ou vá ser. Toda semana uma tristeza e uma alegria de ser quem é, de estar ora sozinha, ora acompanhada. Uma descoberta aqui e uma ilusão ao lado. Um sonho, um pesadelo, um caminho a ser percorrido.
  Sim, o tempo estava indo embora, suas escolhas refletindo quem ela se tornaria, um mundo, uma cidade, quilômetros distanciando vidas. Uma família com valores que ela ainda estava constituindo. Um florescer de novas ideias, novos conceitos e um futuro brilhante no qual ela acreditava para si.