Biblioteca

  É sempre bom ouvir os outros. E quando falo sobre ouvir, não é como sinônimo de seguir conselhos. Outro dia perdi algo que gostava muito. Mas como toda tragédia cotidiana, só descobri o quanto, quando estive ameaçada de perder.
  Com passos incertos, ingressei na carreira de bibliotecária, sim, você leu carreira. Um tiro no escuro. Acabei me dando relativamente bem. No segundo período consegui um estágio em um daqueles lugares mágicos que eu chamo de biblioteca. Era um local de guarda da memória de minha região e de toda a história fluminense. Aprendi muito, quase tudo sei que não vou aprender dentro da sala de aula. E o aprendizado não foi só técnico, foi em lidar com gente, usuário, colega de trabalho, chefe. Não foi meu primeiro "emprego" não. Mas o que eu vi e tive de experiência não foi daquele mundo que eu conhecia antes. Foi um aprendizado constante que depois encarei como cotidiano, e nessa parte foi que o perdi. Corte da verba da universidade para os estagiários de biblioteca. Que pesar... Ir embora assim depois de seis meses só é fácil quando a decisão é sua, e eu meio que escolhi sair, deixar passar. Acreditei mesmo no que eu ouvi pelo celular entre lágrimas. Não é para o pior, quando você muda de um local de trabalho para outro, é sempre para o melhor.
  E lá fui eu, caindo de paraquedas em um local lindo e novo, no qual sempre quis estar. Quanta diferença! De um lugar pequeno, esquecido, cheguei ao maior centro cultural da minha nova cidade. Engraçado é aprender cada vez mais, e esbarrar com coisas que nunca imaginei. Na faculdade a gente aprende cada coisa bonita sobre Biblioteconomia, tanta Filosofia, nos ensinam a ter tanta responsabilidade e compromisso com o usuário e comunidade. Paradoxalmente vejo pessoas dificultando o acesso, esquecendo o propósito do local, deixando para trás o que deveria estar em nosso coração. Tenho medo de esquecer do que leio, do que enxergo com olhos críticos, de pensar que não era bem isso que queria e acabar prejudicando um trabalho tão bonito e importante que é o do profissional da informação.
  Hoje, estou escrevendo em primeira pessoa, contando explicitamente uma experiência minha, aos 19 anos e no 3° período para não esquecer de nada do que sinto hoje, para reviver o sentimento de estar aqui em meu lugar, no começo, com esperança.